As farmácias da província de Buenos Aires assinaram um acordo para começar a importar óleo de cannabis, mas apenas mediante receita médica e para tratar casos de epilepsia refratária. O óleo comercializado será da marca Charlotte’s Web, importado dos Estados Unidos. “Há quase três anos, há mais familiares e pacientes que vem na farmácia e nos perguntam sobre o acesso ao óleo de cannabis para tratar a epilepsia refratária. Por isso, realizamos um teste piloto para o pai de uma paciente com esse diagnóstico e os resultados foram satisfatórios“, comentou María Isabel Reinoso, presidente do COLFARMA (Colegio de Farmacéuticos da Provincia de Buenos Aires) e chefe da COFA (Confederación Farmacéutica Argentina). Segundo informou Reinoso, a ANMAT (Administración Nacional de Medicamentos, Alimentos y Tecnología) autorizou este procedimento e as farmácias poderão realizar os trâmites aduaneiros para que o óleo de cannabis possa chegar aos pacientes de maneira mais fácil, rápida e segura.
Desse modo, foi efetuado um teste piloto, no qual se contatou uma farmácia que se encarregou de todos os trâmites legais para a saída do produto da alfandega e seu transporte para a cidade de Bahia Blanca, na província de Buenos Aires, distante 650 km da Capital Federal, onde reside a família que fez o primeiro pedido. “O mais importante é que o processo é seguro e garante a legitimidade, conservação e manuseio pelas mãos de profissionais“, completou María Isabel Reinoso. “Já observamos que no mercado paralelo se vendem frasquinhos de óleo de cannabis que, nos mais favoráveis dos casos, continham azeite de oliva! É uma farsa econômica e imoral, na qual pessoas sem escrúpulos brincam com o dinheiro e os sentimentos de uma família que já passa por uma situação muito delicada“, afirmou a profissional.
Os farmacêuticos da província de Buenos Aires já passaram por treinamento e estão preparados para enfrentar esse novo desafio. A ideia é ampliar esse novo sistema de abastecimento para todas as farmácias do país. “Continuaremos a solicitar às autoridades de saúde que o óleo de cannabis seja incluído na lista 2 de medicamentos, pois trabalhamos com outros analgésicos opióides, sempre sob o controle do Ministério, e acreditamos que as famílias não podem ser deixadas sem uma resposta simples“, comentou Reinoso.
Em 2017, o governo regulamentou a lei da cannabis medicinal através da Lei 27350, que regulamenta a pesquisa médica e científica do uso medicinal da cannabis e seus derivados.
“O que estamos promovendo é que a lei seja aplicada em toda a sua extensão e que não apenas precise ser importada ou que exista apenas uma marca de óleo e, no melhor dos cenários, que seja produzida na Argentina, de forma técnica e apropriada. Queremos que aqueles que estão produzindo óleo de forma caseira possam optar por um medicamento de qualidade e segurança, sem o desespero de fazê-lo em casa“, disse Marcelo Peretta, médico de Farmácia e Bioquímica e secretário geral do Sindicato Argentino de Farmacéuticos y Bioquímicos.
A epilepsia refratária
A Organização Mundial da Saúde descreve essa condição como uma doença cerebral crônica que afeta pessoas de todo o mundo e é caracterizada por convulsões recorrentes. Afeta 1% da população mundial. É um distúrbio causado por um aumento na atividade elétrica dos neurônios que afeta repetidamente movimentos descontrolados. Dada a persistência de crises em pacientes com epilepsia refratária – ou resistentes a medicamentos -, a qualidade de vida é baixa, marcada pelas limitações de conviver com crises epilépticas crônicas.
